"Trazia na liquidez dos olhos
A dor dos cães abandonados.
Na boca, folheada de chagas,
Trazia as letras do pão.
As mãos eram radiografias estendidas
Aos olhos sanguíneos dos homens da taberna.
Trazia seios com ela, dois seios pasmados e frios.
Dois guiços levavam-lhe o corpo assustado.
Senhor!
E os olhos grandes e belos,
Batiam na boçalidade do vinho,
E os seios, atónitos, cresciam na saliva afogada
Das bocas famintas dos homens da taberna.
Tinha quase a idade do leite!
Mas, há muito que nos olhos bovinos dos homens
Dançava a sordidez do pensamento.
Por isso, quando duas mãos calosas de gigante
Lhe engoliram os seios aflitos,
A menina abriu a boca esburacada
Para dizer o preço."
(Prémio
Nacional de Poesia Agostinho Gomes 2005_ 2º prémio)
Manuel A. Araújo
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