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Eis-me novamente no meu espaço
favorito, a biblioteca escolar. Quis o acaso (ou talvez não) que
diante de mim estivessem os quatro volumes da saga
Dragal, a Herdanza do Dragón, da autoria de Elena Gallego Abad, e
Pé-de- Perfume, livro
de contos, de Olinda
Beja. De imediato,
lembrei-me das autoras que estiveram no anfiteatro da nossa escola,
no passado dia quinze, sexta feira, a propósito do Encontro
Luso-Galaico de Escritores.
Elena Gallego foi recebida
pelos alunos do secundário, de espanhol, e foi surpreendida, como
ela própria o confessou, pela história do “Liceu” de Chaves,
tão bem desvendada pela voz de três alunas. Como o “Liceu”
guarda ainda as suas lendas e alguns espíritos vagueiam pelo
silêncio noturno, Elena Gallego sentiu-se no sítio ideal para
interagir com os alunos. Enfeitiçada pelos dragões que percorrem a
história da Galiza, explicou que foram estes que lhe deram o alento
para escrever o que milenarmente escondem quando olham para quem os
fita.
Seguiu-se, num segundo momento
do encontro, a escritora sãotomense, Olinda Beja. Diante dos alunos
do 9º ano, Olinda Beja apresentou-se como contadora de estórias e,
pelas suas palavras iniciais, percebemos todos o quanto ama essas
estórias e os versos que escreve e o quanto tem paixão pela arte de
bem dizer e contar.
Exercitando magistralmente essa
sua arte, Olinda Beja mostrou que o ato de ler não é um momento
monocórdico e enfastiador, como muita gente o julga, pelo contrário,
revelou que é um momento de sedução, de convite permanente, onde a
simplicidade, a leveza e a elegância resultam de um saber
construído, exigindo do “escutador” a atenção que lhe é
devida.
Na sua leitura comunicam as
palavras pronunciadas com firmeza e segurança, os braços que as
meneiam, a voz que, em crioulo, nos devolve a identidade de tantas
palavras que julgávamos só nossas e não fazendo parte dessa
lusofonia que nos une e que Olinda Beja tanto faz questão de
salientar. É o corpo das palavras que dança tão harmoniosamente
que nos agarra e nos devolve ao silêncio. Foi um verdadeiro ato
pedagógico da arte de bem ler e contar, aliás, na conversa que
manteve com os alunos, Olinda Beja explicou que demorou cinco anos a
escrever um dos seus livros, aparentemente pequeno, simplesmente
porque lia em voz alta o que ia escrevendo e só o finalizou quando
encontrou a melodia certa das palavras.
Sim, a verdade é que ao lermos
em voz alta o que escrevemos, damos conta de que nem todas as
palavras conseguem transmitir verdadeiramente a poesia do que
queremos dar ao leitor.
É este o prazer de quem gosta
de escrever!
Leonor Rei